A audácia de falar de Deus

Como você diria que Deus está em sua vida? Como você diria que se sente diante Dele? Que reação isso provoca? Se Deus respondesse às suas dúvidas, o que acha que lhe responderia? Como seria esse diálogo?

Por Nelson Javier Rivera Carvajal *

É possível dizer que somos especialistas em nos relacionar, não apenas com aqueles que estão ao nosso lado, mas também em discernir e conversar com o transcendente. Tanto o ser humano quanto Deus mantém um relacionamento através da linguagem, constituindo o meio pelo qual a ação e o efeito de falar se tornam uma necessidade profunda. A comunicação são as mãos, uma marca ou um estilo que o Criador usa com sua maior obra chamada “humanidade”, no compromisso de transmitir a arte de falar e a arte de ouvir. Isto é a capacidade do ser humano se comunicar, compreender a realidade, abordar os diferentes problemas que afligem os seres humanos e suas questões a partir do olhar de fé iluminado pela Palavra revelada.

Esta audácia de falar de Deus é certamente uma tarefa confiada não somente ao clero, mas também a todos os fiéis leigos que devem se sentir responsáveis pela proclamação da fé. Ou seja, a encarnação da Palavra como evento implica a plena manifestação de Deus aos homens e mulheres por meio daquilo que lhes é mais comum e que é a própria linguagem, e a expressão usada do Verbo tornou-se Palavra que ganha ainda mais força. A própria vida de Deus se torna comunicável ao ser humano como uma insinuação que levanta a questão, a dúvida, o desejo e que se mantém à margem da apreensão do mistério, o que explica por que toda nossa experiência religiosa é marcada por este matiz de ausência, porém, na ausência de Deus, a teologia e a liturgia tendem a sublinhar sua presença.

* Nelson Javier Rivera Carvajal, imc, é professo em São Paulo, SP.

Veja íntegra da matéria na revista Missões, edição de setembro de 2021, página 3.