Missionária da Consolata relata experiência com o povo quechua, na Bolívia, onde trabalha há seis anos.
de Stefania Raspo
Desde 2013 tenho a graça de viver a vida missionária em Vilacaya, no sul da Bolívia. É um pequeno vilarejo de agricultores da etnia quechua, que conserva muitas tradições das origens, que me acolheu de braços abertos, e com quem já caminho há seis anos.
Sim, é um dom, não duvido: viver em contato com os quechua é uma riqueza, porque nos envolvemos na escuta desta cultura sapiencial milenária tão bela e de uma espiritualidade profunda. Mas, ao mesmo tempo, como sucede a toda cultura, existem desafios a serem enfrentados: o futuro dos jovens, a migração para as cidades, as mudanças climáticas que ameaçam os mais pobres com a desertificação, as devastadoras tempestades de pedras... parece não ter solução e pouca esperança.
Mesmo assim, nossa gente caminha de cabeça erguida, com sua dignidade, e às vezes com muita coragem: no ano retrasado chegaram a Vilacaya dois jovens pais com seus belos rebentos, trabalharam muito para cultivar o novos campos que estavam abandonados fazia anos e com tanta admiração por sua escolha, rezava a Nossa Senhora que lhes abençoasse com uma boa colheita.
Comunidade internacional
A nossa comunidade é internacional: uma irmã do Quênia, uma da Argentina, uma da Colômbia e eu, da Itália. Quatro nacionalidades de três continentes diversos, e num contexto cultural diferente do nosso. Às vezes nos surpreendemos como podemos viver juntas, mas afirmo que não só podemos conviver juntas – também se pode querer bem como irmãs e vibrar de amor pela missão que o Senhor nos confiou.
O nosso sonho maior é poder ajudar os jovens a cultivar os valores ideais inspirados pela fé em Jesus e a sua identidade cultural: sabemos que o seu futuro não será fácil, quase todos terão de migrar para a cidade (na zona onde moram não há possibilidade de trabalho) e procurar um trabalho. Alguns sairão para o exterior e às vezes serão discriminados por sua origem indígena. Pouquíssimos conseguirão entrar na universidade e menos ainda terminá-la e ter um diploma profissional. Os amamos como nossos filhos e como mães espirituais preocupamo-nos com eles. Gostaríamos que eles levassem consigo boas lembranças dos momentos que vivemos juntos, e que sentissem Jesus como um amigo que não os abandonará.
Eu sempre tive uma simpatia particular pelos povos andinos, como se o meu coração estivesse se preparando para viver a minha missão nesta terra. A missão é um grande dom. O Bem-aventurado José Allamano afirma que a vocação missionária é o presente maior que Deus pode dar, e seria preciso colocar-se de joelhos, agradecendo a Deus toda a vida. Não há nada de mais verdadeiro do que estas palavras. Obrigado, Senhor, pelo dom da missão! Obrigado pelo dom da missão na Bolívia, com o povo quechua!