O que não morreu foi o sonho

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Trabalho missionário com a juventude continua, mesmo em meio à pandemia. Relatos da animação vocacional na Bahia e no Paraná.

Por Josky Menga e Arlei Pivetta

A pandemia pegou todos de surpresa, o que era uma situação muito distante nos meses de outubro e novembro de 2019 “um problema” dos chineses, passou a ser “um problema” dos europeus em janeiro e fevereiro de 2020 e passou a ser “um problema” da América Latina e do Brasil. em particular em março, e logo depois chegou na África e espalhou-se pelos cinco continentes. A pandemia mudou tudo, parou o mundo, o rico e o pobre no mesmo barco, ninguém podia sair de casa. Os hospitais cheios, um caos na saúde. Mesmo nos países com mais condições e possibilidades, o número de mortos aumentava a cada dia. Nada é a mesma coisa e o mundo nunca mais será o mesmo.

De criança a adulto, só se falava de Coronavírus ou Covid-19 nas casas, nas televisões e tudo girou em volta da pandemia. Ninguém aguentava mais ver as pessoas sofrendo dentro de casa por medo de morrer e de perder alguém da família, e até hoje ainda continuam as mesmas situações, apesar de algumas flexibilizações. Muitos perderam os seus entes queridos sem chance de ver o corpo ser enterrado, às vezes com a presença de duas ou cinco pessoas da família. As máscaras e álcool em gel se tornaram as nossas companheiras de todos os dias por medo de contaminar e de ser contaminado.

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Crescimento com dor

Porém, a relação com os jovens precisava ser mudada. Mudar sempre traz dor, sofrimento, incerteza, dificuldades. Mas como já dizia os filósofos da antiguidade, “crise é crescimento com dor”. A crise faz necessário se reinventar, mudar “rotas”, inovar. O contato com os jovens foi bastante prejudicado, principalmente pela pandemia ter aparecido nos primeiros dias do ano letivo, quando o contato com os jovens do Ensino Médio e da universidade estava a dar os primeiros passos. Com início do planejamento pastoral, havia muitos projetos com os jovens e tudo tinha que mudar, em Cascavel e Jaguarari onde atuamos, tudo tinha que tomar outro rumo, por exemplo, um grande momento de contato com os jovens era a “Missa Jovem”, que ocorria em Jaguarari uma vez por mês com os jovens da cidade em diferentes comunidades e núcleos da paróquia, durante as festas dos padroeiros, e em Cascavel todas as quintas-feiras de cada mês na Catedral Nossa Senhora Aparecida e reunia mais de 3000 jovens. Com a pandemia, tudo ficou cancelado.

Pouco trabalho de campo foi feito no caso de Cascavel, mas o que não morreu foi o sonho, é só abrir novamente as portas das escolas e universidades que o trabalho retorna. Em Jaguarari já tinham outras atividades que foram inventadas para continuar a evangelização e animação para os jovens através das redes sociais, onde iniciamos o projeto das Lives da Juventude, Papo Jovem todos os sábados na rádio comunitária da cidade Top Fm 104.9, para poder discutir as diferentes temáticas para manter contatos com a juventude, isso foi e está sendo muito bom e proveitoso. Até hoje esperando a situação melhorar para tudo voltar a funcionar e ter contato físico com a juventude.

Entre os Macuas em Moçambique tem um ditado que diz mais ou menos assim: “Parar não significa abandonar o caminho, é recuperar as forças para caminhar com mais ânimo”. Este ano foi de olhar e avaliar o que se pode fazer para o próximo. Todos sofreram com a pandemia, uns mais, outros menos. Porém, para a juventude foi algo bastante forte, pois foram obrigados a ficar “presos” dentro de suas casas, isolados do convívio social e ainda com a insegurança sobre o futuro estudantil, econômico e o medo da morte de pessoas próximas e a própria morte. A internet deu e dá uma grande possibilidade para os jovens de interagir, estudar, mas mesmo assim limita o contato pessoa a pessoa, necessário para o crescimento do ser humano em plenitude, o contato pessoal é de extrema importância para a formação do ser humano como um todo.

O isolamento social foi uma novidade para muitos e ninguém estava preparado para isso e saber lidar com esse novo na humanidade. Por isso a pandemia colocou um ponto final na vida de muitas pessoas, muitos perderam os empregos, quase a juventude não sabia e não sabe como será amanhã até achar uma solução, mas também do outro lado abriu as portas para sonhar melhor no futuro. Para muitos jovens, porém, esse momento foi “um retiro”, momento de parar e de pensar sobre o futuro, momento de se retirar, de entrar dentro de cada um para pensar melhor sobre o projeto de vida, o que não deu para realizar esse ano esperamos que seja realizado nos próximos. A juventude não pode parar de sonhar, sempre tem que olhar para o alto e confiar em Deus que tudo isso vai passar e um momento melhor chegará. O que não morreu foi o sonho.

* Josky Menga, imc, é animador vocacional em Jaguarari, BA e Arlei Pivetta, imc, é animador vocacional em Cascavel, PR.