Criança evangelizando Criança

20201217_161452[1]

Catequista organiza grupo São Miguel Arcanjo na comunidade indígena Raposa Serra do Sol, Roraima.

Por Stephen Ngari

Mariene Luciana da Silva tem 13 anos como catequista da comunidade Popó do centro Willimon, região das serras que faz parte da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, Roraima. Ela é casada e tem quatro filhos. Na comunidade, organizou um grupo de crianças chamado São Miguel Arcanjo. Mesmo sem a denominação de infância missionária, a catequista Mariene trabalha com as crianças no espírito missionário.

A ideia surgiu de uma necessidade dentro da comunidade. Os pais se queixavam do comportamento inadequado dos adolescentes e jovens. Entretanto, muitos não ofereciam para eles a formação necessária na construção do seu caráter. Ela assumiu o desafio. O primeiro empenho é ajudar na formação humana e cristã, obediência aos pais e respeito com os adultos. Depois ensina os princípios básicos da vida cristã, como oração e leitura bíblica.

Na formação, a catequista começa a ajudar os pequeninos a abrir os horizontes e entender que há muitas crianças no mundo que vivem uma vida de abandono, fome e falta de evangelização.

Na pandemia

O grupo São Miguel começou antes da pandemia da Covid-19, mas foi nesse período que se fortaleceu. A animadora, junto com as crianças, entendeu que tinha uma missão: rezar e animar as pessoas e a comunidade. Esforçaram-se tanto e conseguiram memorizar alguns Salmos (o 91 é o preferido). Eles têm prazer de recitar para os visitantes que chegam à comunidade. Além dos Salmos aprenderam a rezar o terço e intercedem pelo mundo inteiro nas suas orações.

Em menos de um ano algumas crianças já manifestam sinais de responsabilidade e liderança no grupo. Quando a animadora não está presente, o programa do grupo não para. Conseguem chamar os colegas e juntos fazem momento de oração e de leitura bíblica. Chamam atenção dos colegas que brigam ou usam palavras “feias”.

As crianças do grupo São Miguel não evangelizam somente outras crianças, mas também estão evangelizando suas famílias a partir do conhecimento adquirido com a catequista. Os pais confessam como seus filhos estão mudando a dinâmica da família. Os irmãos mais velhos são repreendidos quando não respeitam seus pais ou quando praticam o que as crianças aprenderam ser errado na sua formação. A oração e conhecimento bíblico não terminam no grupo, elas transmitem a experiência junto às suas famílias.

As crianças também praticam pequenos gestos de caridade. Embora não contribuam materialmente, elas fazem visitas aos idosos e doentes e fazem orações nas suas casas quando forem necessárias e com medidas adequadas.

Mariene também trabalha com o grupo de adolescentes e jovens. Ela não quer perder a continuidade deste trabalho até quando o jovem ou a jovem optar por sua vocação. São sementes da vida missionárias que se plantam com simplicidade, mas com confiança no contexto dos Povos Indígenas.

* Stephen Ngari, imc, é missionário na Amazônia. Publicado na Revista Missões, Dezembro 2020.