... Jesus disse a Simão Pedro: Simão, filho de João, me amas mais do que estes? (Jo 21, 15ss)
Por Domingos Francisco Forte *
Acolher a novidade que Deus a cada momento nos revela, implica maturidade e equilíbrio. O ponto de chegada é aquele momento no qual está Cristo, só Ele, a nos guiar. Avançar na direção da maturidade diminui caprichos e desejos, e faz emergir o essencial: a experiência, a vida totalmente vivida, dia a dia, por Cristo.
Observemos atentamente o “bate-boca” entre Jesus e Pedro. Constata-se no discípulo uma entrega e doação grande, mas... ainda lhe falta o abandono radical em Jesus.
Colocar-se nas mãos de Deus e confiar a ele o timão da vida, é algo gradual (por três vezes Jesus interroga Pedro). A relação íntima, confiante e profunda com Deus, processa-se aos poucos e é pura graça. A amizade com Jesus é o culminar de um exigente caminho espiritual de intimidade com ele.
Não é por acaso que o evangelista João nos coloca este diálogo entre Jesus e Pedro na parte conclusiva do Evangelho. Com certeza, já se haviam dissipado certos imbróglios entre Jesus e seus discípulos e, claro, com Pedro. Havia-se superado os impulsos de valentia, ultrapassado as negações, enfrentado o impacto da Ressurreição e das aparições, e, depois de tudo isso, fazer uma leitura aprofundada de como se deve selar a relação Pedro-Jesus; cada um de nós e Jesus.
Mas aquilo para o qual gostaria de chamar a atenção é para uma palavra que João usa e que é a chave da relação entre Jesus e os seus e estes entre si: amizade.
“... mas, vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai”. (Jo 15, 15)
Mestre do amor
Até na arte de fazer amigos, Jesus é mestre! Ele acolhe seus discípulos assim como são, os ama, simplesmente, e provoca-os a agir como ele. O princípio é sempre este: ser amados, respirar amor para dar amor. Não somos nós a medida do amor, mas, sim, Jesus e o seu modo de amar. Só em Jesus nós temos a verdadeira noção do quanto Deus é nosso amigo: é pela empatia com ele que podemos aprender, muito mais do que por tantas e tantas palavras. De Jesus aprendemos que a um amigo nada se esconde, mas se escancara o coração. É assim como ele faz: abre-se de tal modo aos seus discípulos a ponto de se mostrar como realmente é, até a revelar-lhes os segredos do Pai.
A amizade é o que melhor explica o verdadeiro e o grande amor que Deus nutre por cada um de nós. É um dom gratuito de Deus que devemos invocar com a oração, mas também construir e proteger cada dia. A amizade com Jesus reside em encarar nossa vida como um constante crescimento na intimidade com ele a ponto de exclamar: Senhor, faz de mim o que quiseres.
Deus espera-nos no hoje da nossa pequenez para nos oferecer a sua amizade. Ele acolhe-nos com a sua presença humilde e discreta.
E eu, sinto-me escolhido por Jesus para ser amigo, tal como sou? Sinto-me na plenitude da verdadeira alegria que deriva de ser amigo de Jesus?
* Domingos Francisco Forte, imc, é animador vocacional.
